Introdução
A Revolução Russa de 1917 é um dos eventos mais importantes da história moderna, mas também um dos mais controversos. Muitos historiadores e ideólogos apresentam a revolução como um movimento comunista que libertou o povo russo da opressão czarista e imperialista. No entanto, essa visão ignora a complexidade e a diversidade das forças políticas e sociais que participaram da revolução, bem como as consequências negativas que o regime bolchevique trouxe para a Rússia e para o mundo.
Neste texto, vamos analisar o papel do comunismo na Revolução Russa, especialmente com foco na figura de Vladimir Lenin, o líder dos bolcheviques. Vamos mostrar que a revolução comunista não foi um levante popular, mas sim um golpe de partido que usurpou o poder da maioria do povo russo. Vamos também examinar as características autoritárias e antidemocráticas dos bolcheviques, que usaram a violência, a propaganda e a manipulação para impor sua ideologia e eliminar seus oponentes.
A Revolução de Fevereiro: uma revolução genuína do povo russo
A primeira fase da Revolução Russa foi a Revolução de Fevereiro, que ocorreu entre 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) e 2 de março (15 de março) de 1917. Essa revolução foi motivada por uma série de fatores, como a insatisfação popular com a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, as péssimas condições de vida e de trabalho da população urbana e rural, a falta de liberdades políticas e civis, e a corrupção e incompetência do regime czarista.
A revolução começou com uma greve geral em Petrogrado (atual São Petersburgo), a capital do império, que se transformou em uma manifestação massiva nas ruas, que contou com o apoio de soldados e marinheiros. O czar Nicolau II tentou reprimir o movimento com a força militar, mas fracassou. Em 27 de fevereiro (12 de março), o czar perdeu o controle da capital e abdicou do trono em 2 de março (15 de março).
A Revolução de Fevereiro foi uma revolução espontânea e popular, que envolveu diversos setores da sociedade russa: operários, camponeses, soldados, intelectuais, liberais, socialistas, nacionalistas etc. A revolução criou uma série de órgãos representativos do povo, como os sovietes (conselhos) de trabalhadores, soldados e camponeses, que surgiram em várias cidades e regiões do país. A revolução também estabeleceu um governo provisório, formado por membros da Duma (parlamento) e liderado pelo príncipe Gueorgui Lvov.
O governo provisório tinha como principais objetivos convocar uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova constituição democrática para a Rússia, garantir as liberdades políticas e civis para todos os cidadãos, realizar reformas sociais e econômicas para melhorar as condições de vida do povo, e negociar uma paz honrosa com os países em guerra.
A Revolução de Outubro: um golpe de partido sem apoio popular
A segunda fase da Revolução Russa foi a Revolução de Outubro, que ocorreu em 25 de outubro (7 de novembro) de 1917. Essa revolução foi motivada por uma série de fatores, como a insatisfação dos bolcheviques com o governo provisório, que consideravam burguês e traidor da revolução; a influência da teoria marxista-leninista, que defendia a necessidade de uma revolução proletária para instaurar o socialismo; a crise econômica e social que se agravava no país; e o apoio financeiro e logístico que os bolcheviques receberam da Alemanha, que via na revolução uma forma de enfraquecer a Rússia e sair vitoriosa da guerra.
A revolução começou com um levante armado em Petrogrado, que culminou com a tomada do Palácio de Inverno, a sede do governo provisório. O levante foi planejado e executado pelo Comitê Militar Revolucionário, um órgão criado pelos bolcheviques no âmbito do Soviete de Petrogrado, que era dominado pelo partido. O líder dos bolcheviques, Vladimir Lenin, que havia retornado do exílio na Suíça em abril de 1917, com a ajuda dos alemães, foi o principal articulador e inspirador da revolução.
A Revolução de Outubro foi uma revolução de partido, que envolveu apenas uma minoria da sociedade russa: os bolcheviques e seus aliados, como os socialistas-revolucionários de esquerda, os anarquistas e os maximalistas. A revolução não contou com o apoio da maioria do povo russo, que era composta por camponeses, que queriam a distribuição da terra; por soldados, que queriam o fim da guerra; e por liberais e socialistas moderados, que queriam a democracia. A revolução também enfrentou a resistência de vários grupos políticos e sociais, que se opunham ao regime bolchevique e formaram o movimento contrarrevolucionário conhecido como "branco". A revolução desencadeou uma guerra civil que durou até 1921, e que causou milhões de mortes e enormes prejuízos materiais para o país.
A Revolução de Outubro estabeleceu uma ditadura comunista na Rússia, que se transformou na União Soviética em 1922. Os bolcheviques dissolveram a Assembleia Constituinte eleita em novembro de 1917, que era dominada pelos socialistas-revolucionários, que obtiveram 40% dos votos, enquanto os bolcheviques receberam apenas 24%. Os bolcheviques também aboliram os sovietes como órgãos democráticos e autônomos do povo, e os transformaram em instrumentos subordinados ao partido. Os bolcheviques também proibiram os outros partidos políticos, fecharam os jornais independentes, censuraram as artes e as ciências, reprimiram as greves e as manifestações populares, perseguiram e eliminaram seus oponentes políticos e ideológicos, e impuseram um regime de terror e violência sobre a população.
Vladimir Lenin: o ditador comunista da Rússia
Vladimir Lenin foi o principal líder e ditador da Rússia soviética até sua morte em 1924. Lenin foi um político astuto e pragmático, que soube adaptar a teoria marxista à realidade russa. Lenin defendia a ideia de que a revolução proletária deveria ser dirigida por um partido de vanguarda, formado por intelectuais revolucionários, que representariam os interesses do povo. Lenin também defendia a ideia de que a revolução deveria ser feita por qualquer meio necessário, incluindo a violência, a mentira e a traição. Lenin foi o responsável por criar o primeiro Estado totalitário do mundo, que serviu de modelo para outros regimes comunistas posteriores.
Conclusão: a revolução comunista não teve o amplo apoio popular
Em conclusão, podemos afirmar que a revolução comunista na Rússia não foi um levante popular, mas sim um golpe de partido que não tinha o apoio popular. Podemos também afirmar que os bolcheviques foram um partido autoritário e oportunista, que usaram a retórica do "poder soviético", embora tenham mantido o poder centralizado nas mãos do partido. Em última análise, podemos argumentar que a revolução comunista não teve o amplo apoio popular que algumas narrativas sugerem.
Para se aprofundar mais no assunto recomendamos a leitura do livro Lênin, Stálin e Hitler: a era da catástrofe social, de Robert Gellately.
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