O fascismo imaginário do século 21: como certos grupos usam a palavra de forma pejorativa

Getúlio Vargas

Introdução

Você já foi chamado de fascista ou chamou alguém de fascista? Você sabe o que significa essa palavra e qual é a sua origem histórica? Neste post, vamos explicar o que foi o fascismo, como ele surgiu e como ele foi derrotado. Também vamos mostrar como o termo fascismo vem sendo usado de forma pejorativa e abusiva por certos grupos políticos e ideológicos, e quais são os problemas e os riscos dessa prática.

O que foi o fascismo?

O fascismo foi um movimento político que surgiu na Itália após a Primeira Guerra Mundial, liderado por Benito Mussolini, e que se caracterizou pelo autoritarismo, nacionalismo, militarismo, corporativismo e anticomunismo. O fascismo se opunha à democracia, ao liberalismo, ao socialismo e ao pluralismo, e buscava criar uma sociedade unificada e homogênea sob o comando de um líder carismático. O fascismo também se aliou ao nazismo de Adolf Hitler na Alemanha, que acrescentou ao seu ideário o racismo, o antisemitismo e o expansionismo.

O fascismo foi derrotado na Segunda Guerra Mundial pelos países aliados, e desde então é considerado uma das maiores ameaças à humanidade e à civilização. O fascismo deixou um saldo de milhões de mortos, feridos e desaparecidos, além de ter cometido crimes hediondos contra a humanidade, como o Holocausto, o genocídio de judeus, ciganos, homossexuais e outras minorias.

Como o fascismo se manifestou no século 20 e 21?

Apesar da derrota do fascismo na Segunda Guerra Mundial, isso não impediu que alguns grupos tentassem ressuscitar o fascismo ou criar novas formas de fascismo ao longo do século 20 e 21. Alguns exemplos são:

- O franquismo na Espanha, que foi uma ditadura militar liderada por Francisco Franco entre 1939 e 1975, que reprimiu violentamente os opositores políticos, os nacionalistas bascos e catalães, os comunistas e os sindicalistas.

- O salazarismo em Portugal, que foi uma ditadura autoritária liderada por António de Oliveira Salazar entre 1933 e 1968, que censurou a imprensa, a cultura e a educação, e que manteve as colônias africanas sob um regime de exploração e opressão.

- O peronismo na Argentina, que foi um movimento político populista liderado por Juan Domingo Perón entre 1946 e 1955, e depois entre 1973 e 1974, que misturou elementos de nacionalismo, socialismo, corporativismo e catolicismo, e que perseguiu os liberais, os comunistas e os militares.

- O pinochetismo no Chile, que foi uma ditadura militar liderada por Augusto Pinochet entre 1973 e 1990, que implantou um modelo econômico neoliberal apoiado pelos Estados Unidos, e que torturou, matou e exilou milhares de opositores políticos, estudantes, artistas e intelectuais.

- O apartheid na África do Sul, que foi um sistema de segregação racial imposto pela minoria branca entre 1948 e 1994, que privou os negros de seus direitos civis, políticos e econômicos, e que submeteu-os a condições de vida miseráveis em guetos chamados bantustões.

- O baathismo no Iraque e na Síria, que foi uma ideologia política pan-árabe e socialista liderada por Saddam Hussein no Iraque entre 1979 e 2003, e por Bashar al-Assad na Síria desde 2000 até hoje, que promoveu guerras contra Israel, Irã e Estados Unidos, e que cometeu atrocidades contra as minorias étnicas e religiosas como os curdos, os xiitas e os cristãos.

- O khmer vermelho no Camboja, que foi um movimento comunista radical liderado por Pol Pot entre 1975 e 1979, que tentou criar uma sociedade agrária e coletivista, e que exterminou cerca de um quarto da população cambojana em campos de trabalho forçado, fome e execuções.

- O varguismo no Brasil, que foi um regime político liderado por Getúlio Vargas entre 1930 e 1945, e depois entre 1951 e 1954, que combinou elementos de nacionalismo, populismo, estatização de empresas, trabalhismo e corporativismo, e que implantou o Estado Novo, uma ditadura inspirada no fascismo italiano, que censurou a imprensa, a cultura e a oposição, que proibiu outros idiomas no Brasil e proibiu estados de terem suas bandeiras.

Esses são apenas alguns exemplos de regimes ou movimentos que podem ser considerados como formas de fascismo ou neofascismo no século 20 e 21. No entanto, esses casos não são suficientes para explicar o uso indiscriminado e abusivo da palavra fascismo no século 21.

Como o fascismo vem sendo usado de forma pejorativa no século 21?

Hoje em dia, parece que qualquer pessoa que tenha uma opinião diferente da nossa é chamada de fascista, sem levar em conta o contexto histórico e as características específicas do fascismo. Essa prática é conhecida como reducionismo ou banalização do fascismo, e tem como objetivo deslegitimar o interlocutor e impedir o debate racional.

Essa estratégia é usada majoritariamente por grupos de esquerda, que acusam certos grupos ou ideologias de serem fascistas ou de apoiarem o fascismo. Por exemplo, alguns grupos de esquerda chamam de fascistas os defensores do liberalismo econômico, da intervenção militar, da religião, da família tradicional, da moral conservadora, etc. 

Essa forma de usar a palavra fascismo como um insulto genérico é um grave erro histórico e político. Em primeiro lugar, porque desrespeita a memória das vítimas do verdadeiro fascismo, que sofreram atrocidades inimagináveis nas mãos dos regimes totalitários. Em segundo lugar, porque banaliza o conceito de fascismo e dificulta a identificação e a denúncia dos casos reais de fascismo que ainda existem ou que podem surgir no mundo. Em terceiro lugar, porque impede o diálogo democrático e a convivência pacífica entre pessoas que têm visões diferentes sobre a sociedade.

Como usar a palavra fascismo de forma correta

Portanto, é preciso ter cuidado ao usar a palavra fascismo no século 21. Não se trata de negar ou minimizar os perigos do fascismo, mas sim de reconhecer sua complexidade e especificidade histórica. O fascismo não é uma palavra mágica que serve para rotular tudo aquilo que não gostamos ou que nos incomoda. O fascismo é uma realidade histórica que deve ser estudada, compreendida e combatida com rigor e responsabilidade.

Para usar a palavra fascismo de forma correta no século 21, é preciso levar em conta os seguintes critérios:

- O fascismo é um fenômeno histórico que teve origem na Itália do século 20 e que se espalhou por outros países da Europa e do mundo. Não se pode chamar de fascista qualquer regime ou movimento autoritário que existiu antes ou depois do fascismo original.

- O fascismo tem características próprias que o diferenciam de outros tipos de autoritarismo ou totalitarismo. Não se pode chamar de fascista qualquer regime ou movimento que seja nacionalista, militarista, corporativista ou anticomunista. É preciso analisar o conjunto das ideias e das práticas do fascismo e compará-las com as de outros regimes ou movimentos.

- O fascismo é uma ameaça real que pode ressurgir ou se adaptar às novas circunstâncias históricas. Não se pode ignorar ou subestimar os sinais de alerta do neofascismo ou do pós-fascismo. É preciso estar atento aos discursos e às ações que promovam o ódio, a violência, a intolerância, a discriminação, a manipulação e a desinformação.

Conclusão

O fascismo imaginário do século 21 é um termo que vem sendo usado de forma pejorativa por certos grupos políticos e ideológicos para desqualificar seus adversários. Neste post, mostramos como essa palavra perdeu seu significado histórico e se tornou uma arma retórica para atacar qualquer um que discorde de uma determinada agenda.

Também mostramos como o uso incorreto da palavra fascismo pode ter sérias consequências, como a banalização de um fenômeno histórico grave e a dificuldade em identificar e combater casos reais de autoritarismo. É crucial reconhecer a complexidade e a especificidade do fascismo, evitando o seu uso indiscriminado como um rótulo genérico.

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